quinta-feira, 30 de agosto de 2012

José Roberto Bertrami - biografia incompleta

José Roberto Bertrami nasceu em 21 de fevereiro de 1946 (signo de peixes), em Tatuí, interior de São Paulo e faleceu em 8 de julho de 2012 no Rio de Janeiro.


É muito difícil escrever sobre esse músico. Quanto mais se pesquisa mais coisa se descobre. Uma trilha puxa a outra, parece não ter fim. Afinal, quem foi realmente José Roberto Bertrami? Ele tocou de tudo e com todo mundo no mundo inteiro. É mais um daqueles músicos brasileiros que todos conhecem lá fora e aqui, muito pouco. Apenas uma citação no Wikipédia, naquela enciclopédia que todos falam o que vem a cabeça e você não pode acreditar em tudo. Já falo sobre isso. Acho que ele merecia coisa melhor. Vou tentar aqui mostrar um pouco mais.

Bertrami apareceu na cena musical em 1965 com o LP “Os Tatuís” (raríssimo, eu tenho, não empresto). Com apenas 19 anos, já chega com um sexteto da pesada e um som diferente do que rolava na época. A formação da banda era: José Roberto Bertrami no piano, Claudio Henrique Bertrami no baixo (seu irmão), Vasconcelos no sax tenor, Ivo Mendes no piston, Aresky Aratto no órgão e Elizeu Campos na bateria. Confesso que não conheço a turma toda. O primeiro disco do cara se torna um clássico, disputado nos sebos por colecionadores (japoneses à frente, sempre eles). O garoto promete.


Em 1966, lança o disco “José Roberto Trio”, com ele no piano, Claudio Henrique Bertrami no baixo e Jovito Coluna na bateria. É um discão. Se achar pode comprar. Se não achar, me avise. Já vi no “Mercado Livre”. Tá caro.




Mas, aí, já tinha passado a época dos Trios, a febre dos Trios. Acho que o Brasil foi o país que mais teve Trios no mundo: Tamba Trio, Zimbo Trio, Milton Banana Trio, Ginga Trio, Jongo Trio, Don Salvador Trio, Bossa Três e muitos outros. Fora aqueles que não tinha Trio no nome, mas eram trios, como o de Donato, Dick Farney, Pedrinho Mattar, etc. Posso ficar aqui a noite toda falando só dos Trios que proliferaram nessa época. Em 1966, tava todo mundo no México, Estados Unidos e Europa faturando uns trocados. Aliás, o México, sempre foi uma boa pedida, o pessoal era adorado na terra do sombreiro. Só me lembrei dos mais manjados. Tem ainda a galera de São Paulo, que formou um monte desses Trios. A noite de São Paulo foi o berço dos Trios. A Bossa Nova deveria agradecer a “Terra da Garoa”. Nesse ponto, acho que Vinícius de Moraes vacilou, ou estava meio “bebum” ouvindo o piano de Johnny Alf naquela tarde quando falou que São Paulo é o túmulo do samba (depois eu conto). Bobagem. Coisa de biriteiro.

Apesar dos sertanejos de sempre, na década de 60, São Paulo abraçou a Bossa Nova e a música instrumental com muita força. Desculpe-me os cariocas, mas São Paulo colocou muita gente boa na pista e garantiu a sobrevivência de muito músico que migrou para a metrópole oriunda de todo o Brasil (já falo sobre isso). Sem falar da época de ouro dos festivais. No Rio de Janeiro eram aqueles inferninhos e alguns restaurantes que tinham música ao vivo. A maioria quase amadora. Com a mudança da capital para Brasília, em 1960, o Rio de Janeiro levou um baque e tanto. E o músico sentiu. Quase todos foram trabalhar em São Paulo.
  Em 1966, Bertrami, precisando “garantir o leite do caçula e o sapato da mulher", aceita participar da Orquestra Som Bateau (depois eu comento). Foram quase 20 discos de 1966 a 1978, ou seja, 2 ou 3 por ano. Façam aí as contas. Como dizia Tim Maia (meu guru): “Vale Tudo”. Nesse babado aí entrou Hyldon, Gérson King Combo, Cláudia Telles, Fevers, Golden Boys, Trio Esperança e outros malucos beleza. Tem até um tal de Raul Seixas. Deve ter sido muito divertido aquele som sem preconceito com o seu Fender Hodes e o Hammond. As músicas eram os sucessos da época ou clássicos americanos com uma roupagem nova. Música de festinha. Era aquele "tchu-tchu-ru-tchu...". E vamos nós.

Em 1966, era inaugurada a cervejaria Canecão (Rio de Janeiro), iniciativa do empresário Mário Priolli, instalada na esquina da Lauro Müller, em frente a um posto de gasolina e a Pensão Santa Terezinha ou Solar da Fossa para os íntimos (hoje Shopping Rio Sul) que já não existem mais. Além de uma banda alemã para animar a bebida a casa programa algumas atrações internacionais, como os cantores Chris Montez, Johnny Rivers e a banda Herman´s Hermints (só sucesso na época). No Rio, o rítmo do momento ainda era a Bossa Nova e Priolli, esperto, contrata um quarteto (Quarteto Bossa Nova) para dar conta do recado: os irmãos Bertrami (José Roberto e Cláudio), mais Mamão e Robertinho Silva. Um time da pesada. Essa galera morava logo alí ao lado no Solar da Fossa.

Em 1968, chega ao Solar da Fossa o carioca Frederico Mendonça de Oliveira, o Fredera, que vai morar no apartamento 73, de José Roberto Bertrami. Ele era guitarrista, mas para aproveitar uma vaga no trio de Bossa Nova do Canecão, com Robertinho Silva e Bertrami, transforma-se temporariamente em baixista. Bertrami forma trio, quarteto e o que mais vier. Ainda não era famoso e tinha que pagar o aluguel da pensão.

Já vou falar sobre esse endereço. Saiu até um livro: Solar da Fossa, de Toninho Vaz (Editora Casa da Palavra). Livrão.

1966 – Orquestra Som Bateu – Top Hits e Top Hits 2
1967 – Orquestra Som Bateau – Top Hits 3
1968 – Orquestra som Bateu – Top Hits 4
1970 – 1974 – Som Bateu Ataca Novamente
De 1975 a 1978, foi Ataque pros Namorados, Ataque pra Nostalgia, Ataque pras Festas e não lembro mais, chegando em 1978, atacando nas Discotecas. Doideira. Waltel Blanco também fez arranjos para alguns desses discos.









Essa atividade, digamos paralela, não impediu Bertrami de ter o seu próprio grupo e levar o som que ele realmente gostava. O nome inicial era Grupo Seleção que depois virou Azymuth (Ivan Conti – Mamão, na bateria e Alex Malheiros, no contrabaixo). A proposta era uma mistura muito particular de samba-jazz-funk-rock. Sabe lá o que é isso? O nome Azymuth surgiu de uma música de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, gravada em 1975 pelo grupo. Depois eu volto ao Azymuth.

Em 1968, em plena ditadura militar, pinta um “maluco beleza” querendo abater “umas lebres” e aparecer no cenário artístico. Um tal de Carlos Imperial, com uma proposta “nova”: o Samba em 4/4 (totalmente atrasado, porquê aquele garoto que veio de Niterói, meio manco, já estava detonando em Nova York com aquela musiquinha chata “Mas Que Nada” do Jorge Ben). Nascia a “Turma da Pilantragem”. A onda era levar um som meio de sacanagem, tipo “Meu Limão, Meu Limoeiro”, “Mamãe Passou Açúcar Em Mim". Era o samba misturado com iê-iê-iê e soul. Babado forte. Até as capas dos discos eram debochadas. Bertrami, precisando faturar algum, entra nessa paçoca.


O “Som da Pilantragem” era chamado “Samba Jovem”. Não sei o que é isso. Colocaram guitarra no samba e falaram que era jovem (Como dizia Nelson Rodrigues: “o jovem ou é um Proust ou é um idiota de babar na gravata”). Vou ser sincero, ouvi muito isso aí, tenho até saudade. Algum primo mais velho me alertou sobre os arranjos. Eu acho que passei a ouvir arranjo com a turma da Pilantragem. Tinha um balanço irresistível, alegre, bom de dançar. Era Bertrami ao fundo em mais uma empreitada. Tinha muita fera nesse meio. Vejamos alguns: Bertrami, Alexandre Malheiros, Vitor Manga, Fredera, Márcio Montarroyos, Raul de Souza, Cesar Camargo Mariano, Simonal, Nonato Buzar, Durval Ferreira, Severino Filho, Sérgio Barroso, Edmundo Maciel, Antônio Adolfo, e lógico, Carlos Imperial, que não era bobo nem nada. Tem gente aí que cortou essa fase da sua biografia. Bobagem era tudo garotada querendo tirar um sarro, como se dizia na época. Era o início da pílula e da minissaia, sem HIV, uma festa, ninguém tem nada que reclamar. Nem vem que não tem. Simbora, e vamos nós. O conjunto Blitz, do Evandro Mesquita, copiou um pouco disso aí. Acho a capa desses discos meio "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band", mas era o que tinha de bom.





Em 1969, o Azymuth aparece arrebentando com a música homônima na novela Véu de Noiva da Rede Globo. Tremenda composição de Marcos Valle é bom lembrar. Até hoje quando ouço essa música fico babando, queria ter feito uma assim. Não seria a última participação da banda em trilhas de filme e novelas.



Em 1970, Bertrami lança o disco José Roberto e Seu Conjunto - Organ Sound, Um Novo Estilo. Como só aparece José Roberto, pouca gente sabe que é o Bertrami, mas é ele mesmo.


Em 1973, participa como arranjador, já com o Azymuth, da trilha sonora do documentário “O Fabuloso Fittipaldi”, de Hector Babenco e Roberto Farias. Músicas de Marcos Valle e Paulo Sérgio Vallle. Tem o filme completo aqui no blog.


Em 1974, emplaca a música Pela Cidade, com o Azymuth, na trilha sonora da novela O Espigão, da Rede Globo.

A partir de 1975 sua trajetória se confunde com a do Azymuth. No primeiro disco oficial do grupo a música Linha do Horizonte, dos irmãos Valle, se torna um tremendo sucesso e alavanca a carreira da banda. Tem um disco anterior com remixes, mas parece que não conta.



Nesse mesmo ano, a música Melô da Cuíca se torna trilha sonora obrigatória da novela Pecado Capital, da Rede Globo. Tremendo sucesso. Muito swing na veia. Espete aí na bolacha.





Em 1977, a música Voo Sobre o Horizonte, emplaca na novela As Locomotivas, da Rede Globo.



Ainda em 1977, Bertrami participa, com o seu Fender Hodes, do discão da Sara Vaughan I Love Brasil. Os arranjos são do grande maestro Edson Frederico que nos deixou prematuramente há pouco tempo. Se não tem, corra pra comprar, é imperdível. Aliás, a negona já namorava a música brasileira desde a época que cantou ao vivo na extinta TV Tupi, em 1970, com Simonal. Dizem que o Simona “jantou ela” nesse dia, besteira, coisa de subdesenvolvido. Bom, pelo menos ao vivo, é mentira. Tem no Youtube.



Ainda em 1977, são convidados a tocar no Festival de Montreaux, Suíça. É a primeira banda brasileira a participar desse festival. Depois muita gente tocou lá, nem todos no mesmo nível, diga-se de passagem.“Mas, aí é outra história”.

O mercado internacional estava aberto para o Azymuth. Vão para os EUA a convite de Flora Purim e Airto Moreira e tocam em todo lugar onde havia boa música. O disco Lights as Father, o primeiro gravado fora do Brasil, é a consagração definitiva da banda no cenário internacional. Todo mundo tem que ter esse disco. Não sei se entrou naquela lista dos “1001 Discos Que Você Deve Ouvir Antes De Morrer”. Se não está, não sei quem bolou, mas é um tremendo vacilão. Esqueci-me de dizer, os caras ficaram anos nas paradas de sucesso da Inglaterra. Tem muito músico brasileiro que retornou sua carreira tocando na terra do fog por causa do Aymuth. Toma nota.



Blue Wave - 1983

Hélio Demiro – guitarra
Cláudio Bertrami – baixo
Robertinho Silva – bateria
Aleuda – voz
José Carlos (Bigorna) – flauta
José (Bicão) Alves – baixo




Dreams are Real - 1984

Paulinho Oliveira – flugelhorn
Nico Assumpção – contrabaixo
Robertinho Silva – bateria
Zizinho, Laudir de Oliveira – percussão
Maurício Einhorn - gaita
Durval Ferreira - violão
Jota Moares – vibrafone
José Carlos (Bigorna) - flauta
Flora Purim – vocal
João Palma – bateria
Tavinho Bonfá – violão

É legal ver Jota Moraes e João Palma na pista novamente. Eles aparecem no comecinho da Bossa Nova.


Resumindo, não sei de nenhum palco onde o Azymuth não tocou. Da Estônia, Holanda, Turquia, Japão, Grécia, Dinamarca, Suécia, Itália, USA, Inglaterra, Ibitipoca, Rio das Ostras, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, etc. Chega, cansei. O resto deixa com vocês.
Além desse trabalho estafante de shows ao redor do mundo com o Azymuth, Bertrami lança alguns discos solo: Blue Wave (1983), All My Songs (1990) e Blue Wave, Dreams Are Real (1999). O cara não para nunca.

Em 1990 e 1991, Bertrami dá um tempo com o Azymuth e é substituído por Jota Moraes, tremendo músico (depois eu conto). Logo voltam a tocar juntos até o fim. É uma grande amizade.

Bertrami também tocou e fez arranjo para muita gente boa do samba. Seu piano e outros teclados aparecem em diversos discos do grande amigo João Nogueira com o nome Zé Roberto, ou José Roberto. Em 1988, no disco “João”, o Azymuth aparece completo, com Laudir de Oliveira na percussão e Zé Bigorna no sax. Além de Mané do Cavaco, Neco no violão, Cuscus e Gordinho também na percussão. Bom disco.


 

Seria impossível falar sobre Bertrami em um blog. Ele merece um só para ele. Ou um livro com sua biografia. Quem se habilita? O que falo aqui é só a ponta de um iceberg. Como disse acima, o nome José Roberto aparece em muitos discos. Como as gravadoras perderam o costume de colocar os créditos na contracapa dos discos, é muito difícil saber o que Bertrami realmente fez. Só realmente um biógrafo com dedicação exclusiva e muito fôlego. Eu tenho muito mais para escrever aqui, mas acho que não vai ter fim. Devo ter esquecido algo importante. No site oficial da banda tem muito mais. Vou dormir.

www.azymuth.net/


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Altamiro Carrilho - Bossa Nova In Rio - 1963





Grande Altamiro

Ed Lincoln - Balanço Azul


Saudades da Praia de Copacabana: 3 arrebentações com água clara e limpa

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ipanema Pop Orchestra - Bossa Nova Meets USA - 1965



É a mesma turma novamente. Tem gente boa aí nessa bolacha. É só prestar atenção. Já vou falar sobre eles. Tem alguns aí que não querem aparecer, usam uns apelidos muito toscos, mas são eles mesmos, botando pra quebrar. Tem gente escondida como arranjador ou músico popular e se apresenta nessas bandas magníficas com um apelido. A maioria coloca um nome americano pra dar força. Bobagem das gravadoras da época. Mais tarde acabamos descobrindo quem são eles. Já vou contar.

Olha só a turma de arranjadores ditos piratas: alguns tocam na banda. É fácil identificar, piano, flauta, sax, etc.

Vou dar uma dica: Luiz Eça, Deodato, Cipó, Meirelles e um tal de K. Ximbinho (gatoto
danado esse K. Ximbinho, está na minha mira. Já falo dele mais tarde)

Músicas
01 - Charade (Henry Mancini/Mercer) arranjo: Cipó
02 - Tonight (L. Bernstein/S. Sondheim) arranjo: J.T. Meirelles
03 - Witchcraft (C. Coleman/C. Leigh) arrangements: Cipó
04 - Tender Is The Night (S. Ain/Paul Francis Webster) arranjo: Cipó
05 - Call Me Irresponsible (S. Cahn/J. V. Heusen) arranjo: Cipó
06 - I Let My Heart In San Francisco (D. Cross/G. Cory) arranjo: Cipó
07 - I Could Have Danced All Night (F. Loewe/A. J. Lerner) arranjo: Cipó
08 - Moon River (Henry Mancini/Mercer) arranjo: Cipó
09 - All The Way (S. Cahn/J. V. Heusen) arranjo: Cipó
10 - It Had Better Be Tonight (Henry Mancini/Mercer) arranjo: J.T. Meirelles
11 - Days Of Wine And Roses (Henry Mancini / Mercer) arranjo: K-Ximbinho
12 - Hello Dolly (J. Herman) arranjo: K-Ximbinho

É um discão. Igual aquele que já coloquei aqui na pista. Bom pra dançar coladinho, "Check to Check". Rodopiando no salão. Pra quem gosta...

Os músicos ...já já

É um disco difícil. Se tiverem problemas, me escrevam, que dou uma dica.

Abraços.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Os Ipanemas - 1964



Músicos
Astor Silva (trombone)
Marinho (baixo)
Neco (violão)
Wilson das Neves (bateria)
Rubens Bassini (percussão)

Músicas
01 - Consolação (Baden Powell/Vinicius de Moraes)
02 - Nanã (Moacir Santos/Clóvis Mello)
03 - Se Chegou Assim (Othon Russo/Newton Ramalho)
04 - Kenya (Astor Silva/Rubens Bassini)
05 - Zulu's (Astor Silva/Neco)
06 - Nuvens (Durval Ferreira/Maurício Einhorn)
07 - Adriana (Roberto Menescal/Luis Fernando Freire)
08 - Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
09 - Jangal (Rubens Bassini/Orlandivo)
10 - Berimbau (Baden Powell/Vinicius de Moraes)
11 - Congo (Astor Silva/Wilson das Neves)
12 - Java (Astor Silva/Neco)

Único disco dessa banda. É uma hard-bossa-jazz-afro, se é que esse termo existe. Poderia chamar de som de gafieira ou bom pra dança de salão, mais moderno. É muito gostoso. Eu que não danço nada gostaria de ter uma morena nos braços rodopiando pelo salão ao som do competente trombone de Astor. Me amarro nesse disco. É um som meio afro, meio bossa. Enfim, é Astor no trombone e Neco no violão e a galera lá atrás segurando na cozinha, quebrando tudo. Sem esquecer a bateria de Wilson das Neves. Esqueci, é um disco muito bem gravado para 1964. É um som prá cima, alegre, muito bom de ouvir. Infelizmente, nem tudo que é bom está disponível, ou é difícil de achar. Mas se achar, pode comprar na hora, é "Pule de Dez", com diria nosso saudoso João Saldanha. Se não achar, falem comigo, pois posso dar umas dicas. Boa sorte.


A bossa afro dos Ipanemas
Eles lançaram um único álbum nos anos 1960. Singular, pela mistura de ritmos africanos e a bossa nova, o disco atravessou décadas seduzindo ouvintes e motivou uma nova formação do grupo nos anos 2000.

Quando em 1964 o percussionista carioca Rubens Bassini reuniu os amigos Astor Silva (trombone), Wilson das Neves (bateria e percussão), Luiz Marinho (contrabaixo acústico) e Neco (violão) para gravar um LP, sob o codinome Os Ipanemas, ele provavelmente não imaginava que estavam prestes a registrar uma pequena obra-prima da música instrumental brasileira. 
Músico experimentado, atuando em estúdios, gafieiras, bares e inferninhos cariocas desde a segunda metade dos anos 1950, Bassini integrou, em 1959, as sessões de gravação de Chega de Saudade, a estreia luminar de João Gilberto.  

Em 1961, a convite do selo Pawal Records – que também lançou álbuns inaugurais dos organistas Ed Lincoln e Celso Murilo, entre outros – Bassini gravou seu primeiro e único disco autoral, de forte influência latina, intitulado Ritmo Fantástico – Rubens Bassini e os 11 Magníficos (ouça o tema Canoinha). Na contracapa de Ritmo Fantástico lê-se a recomendação “ouça para dançar, dance para se divertir”.

Se em 1961 o propósito autoral de Bassini era entreter ouvintes e provocar estímulos dançantes, três anos mais tarde, acompanhado de Wilson, Astor, Marinho e Neco, ele preferiu tirar o pé do acelerador e impregnar de cadências africanas a bossa dos Ipanemas. Inspirado, o quinteto criou texturas sonoras jamais ouvidas no repertório das dezenas de combos instrumentais que pululavam no Rio de Janeiro, naquele início de anos 1960. Lógico, havia nas “paisagens” musicais criadas pelos Ipanemas elementos perceptíveis de bossa nova, baião, côco, xote, batuques de umbanda e candomblé, mas a seção percussiva, a cargo de Bassini e Wilson (flagrado de berimbau em punho no retrato da contracapa), foi a distinção que fez do grupo um dos mais originais entre seus contemporâneos – além das expressões de origem africana entoadas pelos cinco, de forma econômica, como scats vocais, que replicam as melodias de algumas das músicas. 

No triênio 1963-1965 o samba-jazz viveu período de ouro. Fez surgir em diversas capitais do País dezenas de trios, quartetos e quintetos, muitos deles chegando a registrar ao menos um álbum. Mesmo tendo alguns deles envolvimento estreito com o novo gênero instrumental – Neco e Wilson, por exemplo, integravam Os Gatos e Os Catedráticos –, em busca de novas sonoridades, os músicos dos Ipanemas ignoraram alguns dos estatutos do samba-jazz. Coube a Astor, discípulo dos maestros César Guerra-Peixe e Moacir Santos, com quem teve aulas de harmonia, assinar os arranjos do disco. O resultado instiga. Faz crer que a bossa-nova atravessou o Atlântico, deu um breve passeio pela Mãe África e voltou transformada. Impressão esta ainda mais reforçada quando se lê na contracapa do disco o repertório escolhido pelos Ipanemas. Estão nele clássicos como Garota de Ipanema (Tom e Vinícius), Adriana (Menescal e Lula Freire), Consolação e Berimbau (Baden e Vinicius), e Nanã (Moacir Santos). 
Outros sete temas, de autores diversos, integram o disco e cabe aqui um parêntese para reverenciar Daudeth Azevedo, o Neco. Co-autor, com Astor, dos temas Zulu’s e Java, ele foi um dos maiores violonistas de sua geração –  também exímio no cavaquinho, bandolim, guitarra e violão de sete cordas. Neco gravou quatro álbuns autorais (Coquetel Bossa Nova, Velvet Bossa Nova, Samba e Violão, e Samba e Violão N° 2), mas, como a genial Rosinha de Valença, foi eclipsado pela supremacia de dois gigantes: Luiz Bonfá e Baden Powell.    

Em 2001, a convite do produtor Joe Davis, da gravadora Far Out Records, e do baterista Ivan “Mamão” Conti, do Azymuth (que gravava pelo selo britânico), Neco e Wilson reformularam o grupo, incluindo Mamão na nova composição. O encontro resultou em novo repertório e os discos The Return of The Ipanemas (2001), 
Afro Bossa (2003) e Samba is Our Gift (2006). Em 2008, um novo álbum, Call of The Gods, levou os músicos a excursionarem pela Europa e a imprensa local a dar a eles o equivocado apelido de “Buena Vista Social Clube brasileiro”.
Com a morte de Neco, em agosto de 2009 (Astor morreu em 1968, Bassini em 1985), Wilson decidiu lançar um tributo ao violonista, o álbum Que Beleza, que contou com a participação de Mamão, Jorge Helder (baixo), Vittor Santos (trombone), José Carlos (guitarra e violão), Thiago Gim (percussão) e a cantora Áurea Martins.
Embalado em grande estilo com uma bela ilustração de Sergio Malta, o álbum de 1964 traz na contracapa a frase “discos CBS apresenta um novo som em samba, esses são Os Ipanemas”.

No rodapé, enaltecendo a qualidade técnica do registro, a gravadora insiste “vossa senhoria pode comprar este disco sem o mais leve receio de que ele venha a se tornar obsoleto no futuro”. Definitivamente, a CBS não cometeu exagero algum tampouco pregou peça marqueteira em seus clientes. Basta ouvir os 12 temas para concluir que Os Ipanemas é obra atemporal, com um frescor inesgotável.
Confira a íntegra de Os Ipanemas  
No dia 26 de setembro Wilson das Neves foi destaque nesta coluna, com seu disco Samba-Tropi – Até aí morreu Neves
Marcelo Pinheiro escreve para a Brasileiros desde 2009. Atualmente é editor da publicação. Pesquisador da rica produção musical brasileira, escreve todas às quintas sobre álbuns obscuros, mas fundamentais.

O texto não é meu, é de Marcelo Pinheiro.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

José Roberto Bertrami - O Fabuloso Fittipaldi



Arranjos: José Roberto. Sabem quem é José Roberto? É o Bertrami, isso mesmo.

Taí, na íntegra para vocês.

Um filme de Hector Babenco e Roberto Farias de 1973. Esse sonzão aí que vocês estão ouvindo é de Marcos Valle e Azymuth, em plena forma.

Essa música Azimuth (com i mesmo) que abre as primeiras cenas do filme, já havia aparecido no disco "Mustangue Cor de Sangue" dos irmão Valle em 1969 e na novela "Veu de Noiva", de Janete Clair, também de 69, da TV Globo. Era tema de Marcelo (Claúdio Marzo), não sei se alguém se lembra. Era o Grupo apolo IV (ou VI, não me lembro). Alguém se lembra? O original é com Marcos Valle no piano mesmo.





José Roberto Trio - 1966


Músicos
José Roberto Bertrami (piano)
Cláudio Henrique Bertrami (baixo)
Jovito Coluna (bateria)

Músicas
01 – O Canto de Ossanha (Baden Powell/Vinícius de Moraes)
02 – Dá-me (Adilson Godoy)
03 – Impulso (Manfredo Fest)
04 – Dorme Profundo (Marcos Valle/Pingarilho)
05 – Lilos Walts (José Roberto Bertrami/Cláudio Henrique Bertrami)
06 – Só Tinha Que Ser Você (Tom Jobim)
07 – Kebar (José Roberto Bertrami)
08 – Chuva (Durval Ferreira)
09 – Mar Amar (Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)
10 – Flor da Manhã (Adilson Godoy)
11 – Balansamba (R. Morel/J. L. Namur)
12 – Talhuama (José Roberto Bertrami)

Taí um disco difícil de achar. Coloquei aqui para homenagear José Roberto Bertrami, falecido agora em 8 de julho de 2012. Esse é seu segundo disco, o primeiro foi Os Tatuís de 1965, já comentado aqui no blog.

Antônio Carlos Jobim - Um Homem Iluminado


Livro escrito pela irmã de Tom, Helena Jobim.
Editado em 1996 pela Editora Nova Fronteira.

É uma biografia escrita com carinho por um parente próximo que acompanhou toda a carreira do músico. Como pessoa famosa, a maioria dos fatos é de conhecimento público, mas sua irmã vai além, nos mostra um Tom real. não apenas o mito. Helena, além de irmã, é também escritora, angariou alguns prêmios ao longo de sua carreira.

Um ponto importante é a referência a toda obra de Tom Jobim no final do livro. É uma fonte de consulta interessante para àqueles que desejam pesquisar sua discografia. É uma publicação que costumo consultar com frequência. 


quinta-feira, 9 de agosto de 2012


Ipanema Pop Orchestra - Bossa Nova

Maestro Cipo, Eumir Deodato e Luiz Eça
(arranjo)

Músicas
01 - O Barquinho (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
02 - Garota de Ipanema (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
03 - Insensatez (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
04 - Vivo Sonhando (Tom Jobim)
05 - Amor e Paz (Tito Madi)
06 - Rio (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
07 - Desafinado (Tom Jobim / Newton Mendonça)
08 - Consolação (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
09 - Samba de Uma Nota Só (Tom Jobim / Newton Mendonça)
10 - Corcovado (Tom Jobim)
11 - Berimbau (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
12 - Meditação (Tom Jobim / Newton Mendonça)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Magro - Antônio José Waghabi Filho - Homenagem





Amanhã vai ser outro dia.


Magro - Antônio José Waghabi Filho - homenagem



Só podia ser. Como é bonito isso.
Mesmo gravado em 1975 para a novela Gabriela, está novamente na praça.
Resumindo: ainda vamos ouvir o Magrão por mais um tempo. 

"Oni, Onã, Ananayo"

Magro - Antônio José Waghabi Filho - homenagem



Não podemos esquecer que o arranjo dessa música é do Magrão.

Magro - Antônio José Waghabi Filho - homenagem



Isso aí é um daqueles programas "Pra Ver A Banda Passar" que Chico e Nara apresentavam na TV Record (SP). Em 1968 o estúdio pegou fogo e o acervo foi pro vinagre. Alguns tem saudade, outros agradecem.

Magro - Antônio José Waghabi Filho - homenagem

Está difícil. Depois de Bertrami, Severino Filho, agora o Magro. Sem esquecer de John Lord do Deep Purple. É muita gente boa indo embora.

Pensei em escrever um pouco sobre esse execelente músico, não sobre o aspecto musical, mas, como disse um amigo que me telefonou para dar essa triste notícia, como um parente ou amigo próximo que se foi. É assim que eu via o MPB4, uns amigos de faculdade. Foi na faculdade que aprendi a tocar violão e acompanhar a carreira desse quarteto. Eles cantavam e tocavam todas as músicas que eu gostava e o engajamento político também nos aproximava. Muito bacana. Tenho saudade dessa época. Quando ouço "Amigo É Pra  Essas Coisas" e "Roda Viva" sinto como se voltasse no tempo, um tempo bom. Hoje devo tomar um uisquinho e colocar alguns discos deles pra ouvir. Muita saudade.

E a música "Porto" de Dori Caymmi que rola toda noite na novela da TV Globo "Gabriela"? Sabe quem tá no vocal? Lógico que é o MPB4. Resumindo: ainda vamos ouvir o Magrão mais um tempo.

Sobre biografia, discografia e fotos deixo aqui o enderço do site deles, que com certeza, tem mais informação que eu. Façam uma visita em http://www.mpb4.com.br/blog , vale a pena.

Eles esqueceram de falar da música "Benvinda" do Chico Buarque que eles defenderam no IV Festival da Música Popular Brasileira realizado no Teatro Record (SP) em 1968. Não podemos esquecer que tem o Toquinho nessa fita. Ainda sem bigode lá no fundo. Eles ficaram em 6o lugar. Quem leva o 1o é "São Paulo, Meu Amor" de Tom Zé. Brincadeira.


Bossa Nova - História Som E Imagem


Esse livro foi lançado em 1996 em edição bilingue (inglês-português) acompanhado por um CD com as gravações mais representativas do movimento. Editora Spala - Rua Lauro Muller, 116/Gr. 3101 - Rio de Janeiro.

É uma publicação de muito bom gosto, em papel couché com texto bem elaborado e fotografias em preto e branco muito bonitas. Coisa de colecionador. Nunca mais vi nas prateleiras das melhores livrarias, mas talvez ainda se encontre nos sebos. Se é que alguém se desfez de uma obra dessa.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Tião Neto - Sebastião Costa Carvalho Neto

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 05 de novembro de l931 e faleceu  em Niterói, em 13 de junho de 2001.

Geralmente quando começo escrever sobre um determinado músico coloco na agulha um de seus discos para ouvir e ver se vem uma inspiração. No momento estou ouvindo The Bossa Três, 1963, Green Dolphin Street. Que coisa linda! Tião Neto, Edison Machado e Vinhas em total harmonia. É uma das músicas que mais gosto nesse disco. Acho que Edison Machado jamais tocou com tanta leveza e suavidade, e Tião Neto, com seu baixo acústico fazendo aquela ponte entre bateria e piano, é demais. E as músicas Só Saudade e Céu e mar? Grande disco. Era a época dos Trios. Todos queriam formar um trio como o de Bill Evans: Scott LaFaro (baixo) e Paul Motion (bateria), um dos mais aclamados trios de todos os tempos. Acho que Os Bossa Três chegaram lá.

Tião Neto, Luiz Carlos Vinhas e Bill Evans
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Tião Neto conheceu Sérgio Mendes em Niterói na década de 50, no Clube Central de Niterói (RJ), depois caiu no Beco das Garrafas, em Copacabana (RJ). Aí tocou com todo mundo e acompanhou todo mundo. Impressionante, qualquer fotografia da época tem Tião Neto no contrabaixo, e olha que a turma era da pesada, todos arrebentando nas tardes de domingo no Little Clube e no Bottle’s (boates do Beco das Garrafas em Copacabana – RJ): trombone - Raul de Souza (Raulzinho), Edmundo e Edison Maciel, sax – J.T. Meireles, Aurino Ferreira, Paulo Moura, Juarez Araújo, Cipó, Jorginho e Bebeto, trompete – Pedro Paulo e Maurílio, piano – Toninho, Don Salvador, Tenório Jr., Luizinho Eça, Luís Carlos Vinhas, violão – Durval Ferreira, Baden Powell, contrabaixo – Tião Neto, Tião Marinho, Otávio Bailey, Manoel Gusmão, Sérgio Barrozo, bateria – Dom Um Romão, Edison Machado, Victor Manga, Chico Batera, Airton Moreira, Wilson das Neves, João Palma, Hélcio Milito, Milton Banana e por aí vai.

Acompanhou todas as estrelas em início de carreira. Você vai ver essa turma aí formando trios, quartetos, quintetos, sextetos e big-band de acordo com a necessidade. Todos se conheciam e se respeitavam. Qualquer cantor que precisasse de acompanhamento era só pintar no Beco das Garrafas e escolher a formação mais adequada.

Tião Neto, Tenório Jr., Victor Manga, Ronaldo Bôscoli, Cláudio, Giovanni Campana, Hélcio Milito e Luiz Carlos Vinhas
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Tião Neto não foi um músico que gravou e tocou com todo mundo com Luizão Maia e Sérgio Barrozo, outros dois grandes baixistas do Brasil, sempre esteve ligado a uma banda. No começo da carreira formou Os Bossa Três. Em 1966 tocou nos EUA no Bola Sete Trio, com Bola Sete no violão e Paulinho Da Costa na bateria. O registro desse trio está no disco Bola Sete at the Monterey Festival. Infelizmente muito difícil de achar essa bolacha. Depois tocou muito tempo com Sérgio Mendes.

A partir de 1983, de volta ao Brasil, passa a tocar com Tom Jobim e a Banda Nova. De1990 até 1997 acompanha Nana Caymmi. Em 1995 cria o T.N.T – Tião Neto Trio.

Bola Sete Trio (site oficial de Bola Sete - www.bolasete.com)
Tenório Jr., Tião Neto e Edson Machado

Johnny Alf, Tião Neto e Edson Machado
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Sua carreira começou no Bottle’s de Alberico Campana, hoje dono da Churrascaria Plataforma, no Leblon, reduto de Tom Jobim quando vivo. Alí nasceu o Bossa Rio, tremenda banda instrumental com um som hard-bossa totalmente selvagem. A banda era formada por Tião Neto, contrabaixo, Raul de Souza (Raulzinho), trombone de válvula, Edson Maciel, trombone de vara, Hector Costita, sax-tenor, Edson Machado, bateria, Aurino Ferreira, sax-tenor e Sérgio Mendes, no piano. Dá para acreditar? Isso deve ter sido alucinante.


Sérgio Mendes, Maciel, Edison Machado e Tião Neto
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Bossa Rio - Universidade Mackenzie, São Paulo
Juarez, Aurino, Edson Maciel, Victor Manga, Tião Neto e Sérgio Mendes
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Em 1962 participa do memorável show na boate Au Bom Gourmet, em Copacabana (RJ), que reuniu nada menos que Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Milton Banana e o conjunto Os Cariocas. Nesse palco foram apresentados os sucessos Samba da Benção, Garota de Ipanema, Samba do Avião, Astronauta entre outras.

Em 1962 forma Os Bossa Três e gravam seis discos de imenso sucesso: Os Bossa Três (1962), Bossa Três e Seus Amigos (1962), Bossa Três e Jo Basile (1962), Bossa Três e Lennie Dale (1962), Em Forma (1965) e Bossa Três (1966).

Estou ouvindo agora Blues Walk (The Bossa Três, 1963), a primeira faixa. Que sacode. Demais. Uma aula de contrabaixo para a garotada.

Tião Neto, Luiz Carlos Vinhas, Herbie Man, Kenny Dorhan. Sérgio Mendes só assistindo
(Livro - Bossa Nova -História Som e Imagem)

Ensaio de Lennie Dale com Tião Neto, Luiz Carlos Vinhas e Edison Machado
na boate Fred's

(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Em 1962, Tião Neto, de bobeira em Nova York, é chamado por Tom Jobim pra gravar aquele disco Getz/Gilberto. Milton Banana, na bateria, também aparece nessa fita. Getz/Gilberto levou alguns Grammys (quatro milhões de discos, mais que os Beatles) e uma grana pra turma. Nem todos se deram bem.

Tião Neto, Tom Jobim, Stan Getz, João Gilberto e Milton Banana
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Após o famoso concerto de Bossa Nova no Carnegie Hall (Nova York), em novembro de1962, e a gravação do LP Getz/Gilberto, Tião Neto parte para a Europa com João Gilberto ao violão, João Donato ao piano e Milton Banana na bateria. Um time da pesada. Acho que nunca mais se formou um quarteto desse nível. O mais incrível é que eles não ensaiavam nada, saia tudo na hora. Também não precisava, era só um olhar para o outro e dar aquela risadinha sacana. Tião Neto deve ter passado um sufoco com esses três malucos circulando pela Europa

João Gilberto, João Donato, Milton Banana e Tião Neto
(Livro - Chega de Saudade)

Em 1963 vai para os EUA com Os Bossa Três. Toca lá naqueles inferninhos do jazz e cai no Ed Sullivan Show, aquele programa onde se apresentaram também os Beatles. Não sei se foi bom ou ruim. Em minha opinião, Edison Machado deve ter achado um saco. Era um programa de grande audiência, do tipo Silvio Santos no Brasil. Aparecia de tudo: mágico, ventrílogo, malabarista e até músicos. Aliás, domingo sempre foi o auge do brega na televisão no mundo todo.

Night Club Shelly's Manne Hole, Los Angeles.
Chico Batera, Barney Kessel, Bud Shank, Tião Neto e Sérgio Mendes.
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Em 1964 cai na estrada com o Sérgio Mendes Trio, agora com Chico Batera no seu instrumento original. Excursiona pela América do Norte, América do Sul e Japão. Com o trio grava “The Swinger From Brasil”. Um bom disco. Fizeram muito sucesso no México. Aliás, a Bossa Nova era idolatrada no México. Muita gente foi pra lá. E teve a Copa do Mundo de 70 com aquele timaço do Brasil que levou o Tri. Depois de São Paulo e Rio, Guadalajara foi o terceiro berço da Bossa Nova.

Em 1965 vai para Los Angeles (EUA), grava com um monte de gente e passa a tocar com Sérgio Mendes e o Brasil, 66, 77e 88. Deve ter curtido muito esse período. Sérgio Mendes tirava a maior onda nessa época com aquela música “Mas Que Nada” do Jorge Ben. E aquelas duas loiras lidíssimas de minissaia no vocal. Isso era o Brasil 66 de Sérgio Mendes. Dom Um, na batera, só na retaguarda curtindo o visual.

Chegaram a tocar em Washington, na Casa Branca, em 1974, para o presidente Nixon, e em 1978, para o presidente Reagan. O primeiro aí não saiu bem na fita. Sérgio Mendes deve ter ficado meio preocupado. Em 1979 e 1980 tocam no Carnegie Hall. Sucesso absoluto. Sérgio Mendes é realmente um fenômeno. Com certeza ele deve se lembrar do início de carreira quando saia de Niterói, pegava a barca da Cantareira pra atravessar a Baia de Guanabara e praticamente pagava para tocar no Beco das Garrafas com as feras. Foi um salto e tanto. Interessante, como Niterói dá bons músicos. Ainda vou escrever sobre isso.

Tião Neto nasceu no Rio de Janeiro, mas sua identificação é toda com Niterói. Acho que nasceu no Rio por acaso. Você sabia que Liv Ullmann, aquela sueca dos filmes de Igmar Bergman, nasceu no Japão? Pois é.

Tião Neto em Los Angeles com Sérgio Mendes e Dori Caymmi.
(Livro - Bossa Nova - História Som e Imagem)

Tião Neto rodou o mundo com o grupo de Sérgio Mendes (Brasil 66, 77 e 88) até 1982. Volta ao Brasil e monta um estúdio para gravação de gingles e campanhas comerciais. De vez em quando ainda saia com Sérgio Mendes para uma apresentação aqui outra ali.



Em 1984 é convidado por Tom Jobim para ingressar na Banda Nova que ele estava formando para tocar na Europa. Tom tinha sido convidado pelo maestro Peter Guth para se apresentar na Áustria com a Filarmônica de Viena. Acho que Tom sentiu o peso e chamou uns amigos e parentes para acompanhá-lo. Chegou Danilo Caymmi, Tião Neto, Paulo Braga, Paulo Jobim, Beth Jobim, Simone Caymmi e Ana Jobim. Mais tarde se incorporou ao grupo Maúcha Adnet, Paula e Jaques Morelembaum. Deu certo. Esse grupo rodou o mundo até a morte de Tom, em 1994. Em 1987 tocam no Japão. Em 1990 se apresentam no Lincoln Center, em Nova York. Em l992, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1995, voltma a tocar no Carnegie Hall. Mais sucesso. Tom estava cheio das bossas e o grupo afinadíssimo.

Em 13 de junho de 2001, depois de lutar contra um câncer na bexiga, Tião Neto faleceu, aos 69 anos, na sua cidade querida, Niterói. A profissão de músico nem sempre é justa, mas o pessoal que toca contrabaixo sempre tem um semblante feliz, não sei por quê. Quase sempre são aqueles barbudinhos que ficam lá na cozinha segurando as derrapadas das estrelas e o delírio dos egos. Poucos chegam ao estrelato, nem ligam, mas nós, músicos, os reverenciamos e sabemos de sua importância. Nunca serão esquecidos.

Um abraço Tião.