quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sergio Barrozo - Churrasco



Autumn Leaves
Paulinho Trompete
Widor Santiago - sax tenor
Kiko Continentino - teclado
Sergio Barrozo - contrabaixo
Roberto Alemão - bateria

Já tive problemas com essa música. Já não aguentava mais. Toda festa tinha que tocar Autumn Leaves. Com o tempo fui relaxando e entendendo. É apenas a porta de entrada para uma grande "jam". Que pode acontecer ou não. Depende. É como uma música de confraternização, de boas-vindas, algo "relax" que todo mundo toca. A partir daí, já afinados os instrumentos, é outra viagem. Aquele salto no escuro que todo bom músico gosta. Autumn Leaves para o Paulinho, Kiko, Sergio, Widor e Roberto deve ser mais fácil que tocar "Cai cai balão". Bom, vamos ouvir. Se bem que "Cai cai balão" não é tão simples assim. "Cuidado com a outra"!

Galera, olha o outro Luiz, o Alves, de bermudão, doido pra pegar o baixo do Barrozo. Isso é que é festa de bambas.

Sergio Barrozo - Contrabaixo Brasil




Rio 65 Trio
Dom Salvador, Sergio Barrozo e Edson Machado

Eumir Deodato, Hugo Marota, Sérgio Barrozo e João Palma

Foto de 1960 - Concerto de Bossa Nova na PUC-RJ.
Bebeto Castilho (na flauta), Herbie Man (flauta), Hélcio Milito (bateria), Tião Neto (contrabaixo) e Luizinho Eça (piano). Ainda na foto, Luiz Carlos Vinhas, Paulo Cesar de Oliveira, Sérgio Barrozo, Yara Menescal e o cartunista Leon Eliachar.
Foto do livro Bossa Nova Som e Imagem

Sérgio Barrozo
Sergio Portella Barrozo Netto, nasceu no Rio de Janeiro em 16 de junho de 1942. Esse extraordinário contrabaixista tocou e ainda toca com quase todo mundo. Difícil é saber com quem ele não tocou e com quem ele ainda vai tocar.

Geralmente quando você pensa em escrever sobre determinado personagem a primeira dificuldade é achar informação. Quando você não acha nada, a coisa fica difícil, o trabalho é pesado, leva tempo garimpando. Com Sergio Barrozo aconteceu justamente ao contrário: ele aparece em milhares de referências. Outro problema: como organizar tudo isso? Achei que fazendo uma tabela indexada por data de sua vida como músico poderia servir como base para uma futura biografia.

Ele apareceu no cenário musical em 1962 no conjunto de Roberto Menescal e em 1963 grava “A Bossa Nova de Roberto Menescal e seu Conjunto” e no mesmo ano o disco “Baden Powell Swings With Jimmy Prath”. Já começa tocando com as “feras”, e isso aos 20 anos.

Quando pensei em escrever um pouco sobre esse músico já sabia que ele tinha gravado muito, tocado com muita gente, enfim, uma carreira longa, etc... mas não tinha idéia do que viria pela frente. Como toda pesquisa, atualmente, você entra no Google, dá uma olhada nos links. À princípio vem os medalhões, aqueles que todos conhecem, depois começa a aparecer a raia miúda, os que sempre ficam em segundo plano; aqueles que acompanham os medalhões. De saída vi no Wikipédia aquela relação de discos dos quais ele participou. Alguns eu tenho em vinil. Fui lá conferir, pois nunca se sabe se os dados que você vê na Internet são confiáveis. Já vi muita besteira. Conferi, e as informaçõe eram verdadeiras. Bom, vamos para outro parágrafo.

Vem, Agepê, Copinha, Tom Jobim, Egberto Gismonti, João Nogueira, Taiguara, Raul Seixas, Edu Lobo, Aracy de Almeida, Luizinho Eça, Michel Legrand, Paulo Moura, Sarah Vaugham, Marisa Gata Mansa, Martinho da Vila, Candeia, Eumir Deodato. Parei e pensei: - O que é isso? Quem é esse cara? E era só o começo, a coisa não parava. Cada link me levava a outro link, outra descoberta. Resumindo, o que era para ser apenas um resumo pro meu blog se tornou uma obsessão: Vou descobrir o que puder desse cara! Fui pro meu estúdio, onde ficam os meus discos de vinil, e comecei a baixar tudo: João Nogueira, Tenório Jr, César Costa Filho, Baden Powell, Caetano Veloso, Salvador Trio, Erlon Chaves, Victor Assis Brasil, Marcos Valle, MPB4, etc. Fui ler os créditos na contracapa. É isso mesmo, contracapa, os discos de vinil tinham essa mania de dar crédito aos músicos, compositores, produtores, arranjadores. Aparecia até o crédito de quem fez a capa. Alguns são famosos. Verdadeiras obras de arte. Hoje você baixa um MP3, pirata, e coloca pra tocar, se não gostar, deleta e fim. A música se tornou apenas um som ambiente pra se ouvir no carro ou trilha sonora pra tocar no churrasco. Outro parágrafo e outro whisky, por favor.

O cara é um monstro. Nunca vi nada igual. Acho muito difícil que tenha outro músico, no Brasil ou no exterior, que tenha gravado e tocado com tanta gente como o Sérgio Barrozo. Esse músico lá nos EUA seria idolatrado em Berkeley e em outras resenhas. No Brasil toca com todo mundo: churrasco, batizado, na rua, na pracinha, na praia. Na sua simplicidade, abraçado ao seu instrumento de estimação, com mais de 50 anos de dedicação, ainda está na pista. Quase garotão. O olhar ainda tem o mesmo tesão do Beco das Garrafas quando acompanhava Elis Regina e Simonal. Fantástico! Mais um parágrafo.

Geralmente o músico, desde cedo, se identifica com um estilo: bossa, jazz, samba, rock, blues, funk, progressivo, etc. Esse não. Toca tudo e de tudo. Sérgio Barrozo, neto do pianista e compositor Joaquim Antonio Barrozo Netto, começou, como muitos garotos da época, na onda do jazz. Conheceu a turma do Beco das Garrafas, ali na Rua Duvivier, em Copacabana, naqueles efervescentes dias e noites de bossa e jazz. A turma quebrando tudo, aquele ambiente pequeno, cheio de fumaça e whisky vagabundo, o samba e o jazz se encontrando, a Bossa Nova no auge. Não sei onde ele estudou, nem o que fez antes, mas já chegou tocando com a galera do andar de cima. Pausa.

Em 1964, o garoto de 22 anos, já está tocando com Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi, Maysa, Rosinha de Valença, Marcos Valle, Tenório Jr., Wanda Sá e outros mais. Como pode? Incrível! Eu sei que essa turma ficou famosa mais tarde, mas Tom Jobim, Caymmi e Vinícius já eram medalhões. Continuando.

Em 1965, forma o Rio 65 Trio, com Dom Salvador no piano e Edson Machado na bateria. Um time de primeira. Em 1966, já vemos o cara no Trio 3D e no disco de Aracy de Almeida. Durma com um barulho desses! Em 1965, grava com o Rio 65 Trio o disco que mudou definitivamente a carreira de Elis Regina, “Samba eu Canto Assim”. Caramba!

Em 1966, com Durval Ferreira e Eumir Deodato no comando, grava um discão: “Aquele Som Dos Gatos”. É a Bossa Nova descobrindo outros caminhos, outras harmonias, outra “levada”. O banquinho e o violão não é a onda dessa molecada, o som é instrumental e pesado, como eles sempre gostaram de tocar. Nesse mesmo ano grava com Dom Salvador e Edson Machado outra pauleira, “Salvador Trio”. É som demais!

1964 e 1965 são os Anos de Ouro da música no Brasil. Ainda vou escrever sobre isso. Nunca se gravou tanto em tão pouco tempo. São milhares de discos e uma série de gravadoras que brotaram em todos os cantos do Brasil. Quando eu coloco na planilha do Excel e organizo por data, é de cair o queixo. Assustador. A música instrumental chega ao ápice. Cada Trio, Quarteto, Quinteto, Sexteto ou Big Band é melhor do que o outro. O Rio de Janeiro e São Paulo dominam o cenário. Curiosidade: 1964 é o ano que o país cai no regime militar e vive o som da beatlemania. Para a música instrumental “O Sonho Acabou”.

Em 1967 não sei o que andou fazendo, mas em 1968 já veio com Baden Powell (O Som) e Victor Assis Brasil (Trajeto). Dois discos históricos. Todo mundo tem que ter essas bolachas na estante. Quem não ouviu “Canto de Ossanha” no disco do Baden, não ouviu nada.

Em 1969 ele muda um pouco o foco. Novos tempos. Grava com Caetano, Gil e Egberto Gismonti. Já não é mais aquele som instrumental, mas o nível continua alto. O time continua de primeira. Vamos ver mais.

Em 1970 grava com Luiz Eça o disco “Piano e Cordas”, outro clássico, e “Samba Tropi - Até Aí Morreu Neves” com Wilson das Neves e seu conjunto.

Bom, a partir desse ponto, vou usar a minha planilha do Excel para falar de Sergio Barrozo. Vocês tirem as suas conclusões.

1971 – Wilson Simonal - Jóia Jóia
1972 - Eu & Elas - Carlos Lyra
1973 – César Costa Filho - E Os Sambas Viverão
1973 – Chiquinho do Acordeon – Viagem – Maria Gata Mansa
1973 – Eumir Deodato – Os Catedráticos
1973 – Francis Hime - Francis Hime
1973 – Hermes Contesini - Welcome To Sambaland
1973 – Jorge Menezes - Welcome To Sambaland
1973 – Marisa Gata Mansa - Viagem
1973 – Nelson Ângelo - E Os Samba Viverão – César Costa Filho
1973 – Taiguara - Fotografias
1973 – Zé Menezes - Welcome To Sambaland
1973 – Zé Bodega - Welcome To Sambaland
1974 – Erlon Chaves - Banda Veneno Vol. 5
1974 - Raul Seixas - Gita
1975 – Candeia - Candeia, Samba De Roda
1975 – Clara Nunes - Claridade
1975 – Maria Creuza - Os Grande Mestres Do Samba
1975 – MPB4 - 10 Anos Depois
1975 – Nara Leão - Meu Primeiro Amor
1975 – Toninho Horta - Forró De Dominguinhos
1975 - Dominguinhos - Forró De Dominguinhos
1975 – Meu Balanço – Waltel Branco
1976 – Abel Ferreira - Brasil, Sax e Clarineta
1976 – Chico Buarque - Meus Caros Amigos
1976 – Luiz Cláudio Ramos - Meus Caros Amigos – Chico Buarque
1976 – Luiz Gonzaga - Capim Novo
1976 – Maria Bethânia - Pássaro Proibido
1976 – Martinho da Vila - Rosa do Povo
1977 – Ana Rosely - Estou Contigo E Não Abro
1977 – Elizeth Cardoso - Elizeth Cardoso no Japão
1977 – Emílio Santiago - Feito Pra Ouvir
1977 – Frank Valdor - Hot Nights In Rio
1977 – João Nogueira - Espelho
1977 - Agepê - Moro Onde Não Mora Ningém
1977 - Agepê - Agepê
1978 – Agepê - Tipo Exportação
1978 – Edson Frederico - O Som Brasileiro de Sara Vaughan
1978 – José Roberto Bertrami - O Som Brasileiro de Sara Vaughan
1978 – Lincoln Olivetti - Lígia – Osmar Milito
1978 – Maurício Heihorn - Lígia – Osmar Milito
1978 – Nelson Serra - Lígia – Osmar Milito
1978 – Osmar Milito – Lígia
1978 – Sara Vaughan - O Som Brasileiro de Sara Vaughan
1978 – Ugo Marotta – Lígia – osmar Milito
1981 – Edu Lobo – Edu & Tom
1981 – Tom Jobim – Edu & Tom
1983 – Bidinho – Tambá – Pascoal Meirelles
1983 – Léo Gandelman – Tambá – Pascoal Meirelles
1983 – Marcio Montarroyos – O Grande Circo Místico - Chico e Edu
1983 – Marcos Resende – Tambá – Pascoal Meirelles
2000 – Hamleto Stamato – Queens´s Teather de Nova York
2001 – José Boto – Modern Sound – Youtube
2002 – Haroldo Lobo – Modern Sound
2002 – JT Meirelles – Youtube
2002 – Max De Castro – Orquestra Klaxon
2004 – Daniel Garcia – Pascoal Meirelles Sexteto
2004 – Dario Galante – Pascoal Meirelles Sexteto
2004 - Carol Welsman - Mistura Fina - Rio de Janeiro
2005 – Ithamara Koorax – Antumn In New York
2006 – André Tandeta – Toca do Vinícius – Rio de Janeiro
2006 – Cor Bakker – Ilha Funchal – São Paulo
2006 – Duduka Fonseca – Bossa Na Pressão – Haroldo Mauro Jr.
2006 – Gehard Jeltes – Ilha Funchal – São Paulo
2006 – Laura Gygi – Ilha Funchal – São Paulo
2006 – Leonardo Amuedo – Ilha Funchal – São Paulo
2006 – Victor Biglione – Toca do Vinícius – Rio de Janeiro
2006 - Wagner Tiso – Um Som Imaginário
2006 – Kiko Continentino – Modern sound – Youtube
2007 – Michel Legrand – Modern Sound – Youtube
2007 – Miucha – Outros Sonhos
2007 – Ricardo Pontes – Modern Sound – Youtube
2007 – Altair Martins – Savassi Jazz Festival
2009 – Kiko Freitas – Sala Dos Professores - São Paulo
2009 - Mauro Senise - Ostinato - Pascoal Meirelles
2009 - Nana Caymmi - Sem Poupar Coração
2010 - Claudio Roditi Quinteto - Modern sound – Youtube
2010 – Nivaldo Ornelas – Festival De Jazz Do Rio de Janeiro – Youtube
2010 – Paulo Braga – Festival De Jazz Do Rio de Janeiro
2011 – Ciff Kormann – Rio Scenarium – Rio de Janeiro
2011 – Lula Galvão – Lapa Café – Rio de Janeiro
2011 – Pascoal Meirelles – TribOz – Youtube
2011 – Paulinho Trompete – Lapa Café
2011 – Ciff Kormann Trio – Rio Scenarium – Rio de Janeiro.


Pessoal, isso é só a “ponta do iceberg”. "Você ainda não ouviu nada!". Tem muito mais história, e continua.

http://www.myspace.com/sergiobarrozo

Se ele pagou o INSS desde 1962, com 50 anos de serviço, já deveria estar aposentado, pescando, ou ensinando o neto a tocar hip hop com o Marcelo D2. Nada disso. Você se enganou. O cara está tocando por aí, curtindo muito. Todo profissional antes de se aposentar conta os dias na folhinha pra largar aquilo tudo que lhe enche o saco. O músico não, faz o que gosta, só para quando morre.

Esqueci de dizer que 1976 ele toca com Dino 7 Cordas e Copinha um chorinho de Abel Ferreira. Veja lá no Youtube. http://www.youtube.com/watch?v=0wTodWu3zd0



Alemanha 1966
Edu Lobo, J.T. Meirelles, Dom Salvador, Sergio Barrozo, Rubens Bassini
e Jorge Arenas