terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ed Lincoln - Biografia Incompleta


Ed Lincoln (Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia) – sígno – gêmeos.

Criou o Sambalanço e o Samba-Rock. É conhecido como o “Rei dos Bailes”. Quer mais? O resto é cocoroca na certa.

Nasceu em Fortaleza em 31 de maio de 1932 e faleceu no Rio de Janeiro em 16 de julho de 2012. Segundo o jornal “O Globo”, com insuficiência respiratória e limitação dos movimentos. Eu acho que a insuficiência respiratória foi gerada pela limitação dos movimentos, pois se tem um músico no Brasil que mais se movimentou nos últimos 50 anos foi Ed Lincoln. E como. Vejamos.

Ed Lincoln foi baixista, pianista, arranjador e compositor e se notabilizou pela perícia no órgão. Nascido em uma família musical, Ed Lincoln, aos 16 anos já tocava com um trio na Rádio Iracema em Fortaleza (CE).

Antes de se tornar músico profissional foi redator e revisor do “Jornal do Povo” na sua terra natal, Fortaleza. Aos 18 anos, já no Rio de Janeiro, começa a tocar na Rádio Roquete Pinto para pagar seus estudos de Arquitetura. 

Ed Lincoln foi à Rádio Roquete Pinto acompanhando um grande amigo, músico de Fortaleza, que estava de passagem pelo Rio de Janeiro e solicitou sua companhia quando de sua apresentação nessa rádio. Lá ele travou contato com Luizinho Eça, Johnny Alf e outros grandes músicos, com os quais continuou mantendo um relacionamento de amizade. Nesse ambiente, escola, noite, Rio Zona Sul, conhece a sua verdadeira turma. E, foi a partir dessa amizade, que quando Johnny Alf partiu para São Paulo, saindo da boate Plaza, em Copacabana, Luiz Eça o convidou para formar um trio para tocar local. Embora Ed Lincoln também fosse pianista, assim como Luizinho, este o intimou a comprar um contrabaixo e aprender rapidamente para tocar com ele. Em sete dias Ed Lincoln já dominava os princípios básicos do instrumento. Coisa de um grande músico.

Sua primeira aparição no cenário musical foi na Boate Plaza, em 1955, na Av. Princeza Isabel, no Lido, Copacabana, com Luizinho Eça no piano (arrebentando, como sempre) e Paulo Ney na guitarra (onde foi parar o Paulo Ney?). Eram conhecidos como Trio Plaza. O repertório ia de Ary Barroso (Na Baixa do Sapateiro), Estatutos da Gafieira (Billy Blanco) até Melancolia, primeira música de Luizinho (15 anos), passando, claro, por alguns standards americanos, como era o grande tesão da rapaziada pré-bossa nova. Não eram ainda profissionais. Eram músicos levando umas “jam sessions" sem muito compromisso. O registro desse som está no disco Uma Noite No Plaza – 1955. Ed Lincoln ainda era Eduardo Lincoln.



Logo após a gravação desse disco Luizinho Eça ganha uma bolsa de estudos, financiada pela família Guinle, para estudar em Viena e Ed Lincoln assume os trabalhos: chama o grande amigo e guitarrista Baden Powell, Luis Marinho (contrabaixo) e Claudete Soares como cantora para entrar no grupo.

Em 1956 ele grava com Luiz Bonfá o disco Noite e Dia, ainda como Eduardo Lincoln, só que tocando piano. Os outros componentes da banda são: Carlinhos Lyra na guitarra (surpresa?), Luiz Marinho no contrabaixo e João Stockler na bateria.




De 1955 a 1958, Ed Lincoln toca na Boate Drink (Zona Sul do Rio de Janeiro) e assume a direção musical da gravadora Musidisk de Nilo Sérgio.



1959
Ed Lincoln no contrabaixo.

Em 1959, Ed Lincoln, no contrabaixo, acompanha Djalma Ferreira e Os Milionários do Ritmo no disco Drink no Rio de Janeiro.



Em 1960, já como Ed Lincoln, lança o disco Ao Teu Ouvido.




E Debut (1960)



Também em 1961, lança Órgão Espetacular.



E mais outro, em 1961, Les 4 Cadillacs – Doucement, Novamente.



Nesse mesmo ano ainda lança Lover – The Lovers, Vol. 1 e 2.



Em 1962 lança o disco Álbum Número 2. Estou procurando o Número 1.



1962, escondido, em um trabalho paralelo aos discos de carreira, lança Les 4 Cadillacs – Doucement, Cherie.




Também de 1962, Les 4 Cadillacs – Doucement, Mon Amour. É incrível, são 2 por ano, o Cara não para de trabalhar.



E mais esse em 1962. Lover – Vol. 3 – The Lovers.



Em 1963, lança Ed Lincoln e Seu Piano Seu Órgão Espetacular. Muita gente gosta desse disco, eu já não acho essa cocada toda.


Também em 1963, grava Les 4 Cadillacs. Ed Lincoln volta ao piano. Nesse disco nós temos Durval Ferreira na guitarra, Luis Marinho no contrabaixo e Wilson das Neves na bateria. Aí, sim, um Discão.



Em 1964, depois de sofrer um acidente de carro em 1963 que o tirou do circuito por sete meses, Ed Lincoln lança A Volta. Um clássico.



E volta (aproveitando) também com Les 4 Cadillacs – 1964. Se vocês repararem bem os cadillacs lá de cima são diferentes.



Em 1965 ele descansa, mas já em 1966 ataca com Ed Lincoln/OrlanDivo/Nilo Sergio. As músicas desse disco são composições próprias do trio. Legal. A grafia correta é Orlandivo. Essa americanização dos nomes só pode ser idéia do Nilo Sérgio. Aliás, a maioria dos pseudônimos foi idéia dele. Já falo sobre isso.



Neste mesmo ano, 1966, lança o disco Ed Lincoln. Pela foto da capa já dá pra sacar o que rola nessa bolacha.



Em 1967, lança Ed Lincoln – Órgão e Piano Elétrico. Ainda não sei se esse disco foi lançado em 67 ou 1971. Tenho que conferir.



1968 – disco Ed Lincoln, simplesmente.



Nos anos 70, Ed Lincoln se torna o Rei dos Bailes. Sempre acompanhado de grandes músicos que mais tarde teriam carreiras brilhantes. Alguns como: Claudio Roditi, Márcio Montarroyos, Durval Ferreira, Emílio Santiago, Rubens Bassini, Orlandivo, Sílvio Cezar e muitos outros.

1989, depois de muito tempo, lança o disco Novo Toque.



É muito difícil escrever sobre Ed Lincoln, é muita coisa, é uma biografia que não acaba nunca.

Depois do contrabaixo e do piano Ed Lincoln começa a tocar órgão. Não é aquele som careta das igrejas (Bach como exceção), é simplesmente um Hammond, grande objeto de desejo dos pianistas da época. Eumir Deodato deitou e rolou nessas teclas. Ed Lincoln foi fundo, criou um estilo, uma marca: o Sambalanço, a Bossa Nova para dançar. Você acha que é pouco? Ed Lincoln se torna o Rei dos Bailes e das Festinhas. Só dava ele.

Quando eu falo de festinhas não é nada pejorativo, são músicos da pesada que estavam nessa marola, alguns ainda garotos aprendendo o ofício. Garotada: Bebeto Castilho (mais tarde Tamba Trio), Wilson das Neves (Chico Buarque), Durval Ferreira (Os Gatos), Cláudio Roditi (mundo), Luiz Alves (craque), Paulinho Trompete (sem comentários), Alex Malheiros e Márcio Montarroyos (monstros). Essa era a turma do Ed Lincoln.

Lógico, o artista também precisa "comprar o leite do caçula e o sapato da mulher". Os anos 60 e 70 foram anos difíceis para todo mundo. Era só porrada. Todo mundo radicalizando. Ed Lincoln foi à luta, colocou seu órgão na pista e vamos nós. Juro que não vou falar em política, mas sempre fico envolvido, inevitável. Impossível não falar do entrelaçamento da política e da arte com o momento histórico, ambas caminham juntas.

O mercado dos músicos na época (com a invasão dos cabeludos de Liverpool) era as boates, som ao vivo, pancadão, inferninhos, underground, muita fumaça (não era proibido fumar em ambiente fechado), whisky e o Beco das Garrafas com suas domingueiras que faziam a cabeça da rapaziada antenada que não comia ninguém, só tocava e consumia aqueles comprimidinhos da Farmácia do Leme. Alguns músicos foram para Los Angeles (EUA) encontrar outros doidões, outros pra costa leste a procura de um som mais cool. Ed Lincoln queria mais é baile, libido, “check to check”, aí ele se criou. Foram muitos discos.

Não podemos esquecer que Ed Lincoln nas horas “vagas” ainda compunha sucessos e fazia arranjos para grandes músicos que se tornariam medalhões da MPB.

Músicas:
- Olhou Pra Mim – gravada pelo Bossa Três em 1962. Grande sucesso.
- Que Saudades – gravada pelo Trio Surdina – 1963.
- Saudade, Solidão, Olhou Pra Mim - Orlandivo – 1963. Nesse disco os arranjos são de Ed Lincoln.
- Amor Demais – Elis Regina - O Fino do Fino – 1965.

Nessa onda de pseudônimos vamos ver mais algumas coisas do grande Ed Lincoln:






















A partir dos anos 90 Ed Lincoln, fascinado pela Internet e todo avanço digital da mídia, passa a viver em seu estúdio procurando novos sons e novas possibilidades. Um gênio.

Eu tenho certeza que não escrevi nem a metade sobre quem foi Ed Lincoln. Isso é apenas a ponta do iceberg.

Quando fiquei sabendo que Ed Lincoln havia morrido me lembrei que havia muito tempo não ouvia falar nada sobre ele. Foi assim também com Altamiro Carrilho. Uma morte seguida da outra. Onde andavam esses músicos maravilhosos? Não podemos nos esquecer também do nosso grande maestro Severino Araújo que se foi na mesma revoada.

Não me propus escrever uma biografia, apenas algumas recordações.

Saudades do Ed Lincoln.

Búzios Antigamente - Manguinhos - 1968



Búzios Antigamente - Anos 70



Ainda sem a Bee.

Búzios Antigamente - Au Cheval Blanc - anos 70



O melhor filé de Búzios. Saudades.