quarta-feira, 20 de abril de 2011

Os Tatuis_1965

Músicos
José Roberto Bertrami (piano)
Cláudio Henrique Bertrami (baixo)
Vasconcelos (sax tenor)
Ivo Mendes (piston)
Aresky aratto (órgão)
Elizeu de Campos (bateria)

Músicas
01 - Vivo Sonhando (Tom Jobim)
02 - Nuvens (Durval Ferreira / Maurício Einhorn)
03 - Inútil Paisagem (Tom Jobim / Aloysio de Oliveira)
04 - Você (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
05 - A Morte de Um Deus de Sal (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
06 - Insensatez (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
07 - A Bossa do Zé Roberto (José Roberto Bertrami)
08 - Primavera (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
09 - Samba do Avião (Tom Jobim)
10 - Sou Sem Paz (Adilson Godoy)
11 - Minha Namorada (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
12 - O Menino das Laranjas (Theo de Barros)

José Roberto Bertrami nasceu em Tatuí, São Paulo, em 21 de fevereiro de 1946. Estou quase certo que o nome do grupo surgiu daí. Bertrami é aquele tecladista maneiro do famoso grupo Azimuth. Já já eu falo sobre tudo isso.

Não poderia falar desse disco sem falar em Bertrami. Façam as contas: nasceu em 1946 e o disco é de 1965. Noves fora: 19 anos. Dá pra imaginar um garoto de 19 anos com um disco deste? Essa pegada? Hoje garoto de 19 anos é um “débil mental de babar na gravata”, com raras exceções. Como dizia Nelson Rodrigues “com essa idade, ou é um Proust ou um idiota”.

Este é o único disco da turma. É aquele órgão horrível na primeira faixa. Mas neste caso, Bertrami, com apenas 19 anos (custo a acreditar. Deve ter algo errado), não abusa do instrumento, ou seja, não deixa virar churrascaria, pega no piano e manda ver. Os arranjos de metais são bastante vigorosos e a turma se esforça pra sair do lugar comum dos “Standards", embora fosse impossível não tocar Tom Jobim na década de 1960. Era “O Cara”. Nenhum conjunto sobreviveu sem tocar Tom.

Na música Você (Menescal e Bôscoli) você pode ouvir Bertrami no piano com aquela levada Bossa_Jazz_Samba super refinada. É Bill Evans no samba. Vale conferir.

A Morte de Um Deus de Sal, faixa 5, Bertrami, praticamente se vira sozinho. O piano é muito bom, mas a galera de fundo é fraca, convencional, “feijão com arroz”. Estão em um nível mais abaixo. Não é ruim, mas sem surpresa. Não compromete. É aquele baixão de jazz (4/4, sem saber muito bem como ir pro 2/4), bateria com algumas variações, sem usar muito o prato. E os sopros, são aquela delícia ao ouvinte. Quase baile. Tem uma sonoridade bacana. Dá gosto de ouvir. É acima da média. Afinal, são todos garotos tocando seus instrumentos. E bem. Muito bem.

Na faixa 9 (Samba do Avião), piano, sopro e bateria fazem aquele arranjo manjadão, puro Tom, muito bom. O piano se esforça e consegue. Bertrami usa todas aquelas escalas cromáticas do jazz (também manjadas. Parece Luiz Carlos Vinhas). Bacana. Ficou lindo. O cara é bom. Nada contra as cromáticas. Deixa o garoto tocar.

Os arranjos de sopro, em quase todo disco, são Mancini. A garotada adorava. Eumir Deodato, então, foi fã confesso. Na realidade, não tínhamos nada escrito para Big Band e Orquestra no Brasil. A coisa era passada de boca em boca. A turma da Gafieira contribuiu muito. Eles ouviam e escreviam os arranjos na marra. Nas coxas, como se dizia. Nas coxas mesmo. Era assim. Depois é que tivemos acesso aos Songbooks de Gleen Miller, Mancini, etc. Nos EUA já era comum. Já faziam parte dos acervos das universidades. Arranjos originais. Era só reunir a turma que sabia ler e vamos nós. Mas, essa é outra história. Ainda vou falar da turma da Gafieira. São os maiores músicos que já ouvi.

Bertrami se tornou compositor, arranjador e um “band leader” de primeira. Com seu grupo Azimütth (nessa grafia alemã como no original) ganhou o mundo. Ainda tenho muito que falar desse extraordinário músico. Mais tarde.

É um discão. Podem conferir. Garanto. A faixa 11 é uma delícia. Gostosa. Pra se ouvir com a namorada. É um disco bem gravado. Bom de se ouvir.

Na década de 1970 José Roberto Bertrami formou o Azimuth com Alex Malheiros e Ivan Miguel Conti, o Mamão. Ainda contava com o percussionista Ariovaldo Contesini.

Vamos ouvir a faixa 12 - O Menino Das Laranjas. Que piano! Como balança.

* Esse disco até em vinil é difícil de achar. Não conheço nenhum CD oficial. Por enquanto você acha procurando no Google por Os_Tatuis_1965